(Con)fluir: o novo tramo do Parque Túria de Valência
Conheça o projeto que tornará o Parque Túria um grande bosque urbano com saída para o mar de Valência.

Até 2026, Valência realizará um projeto há muito aguardado: a extensão do Jardim do Túria até o mar, recriando sua antiga conexão fluvial. Sob a liderança da atual prefeita, María José Catalá, e em consonância com os ideais da Capital Verde Europeia, a cidade está prestes a testemunhar a concretização de um dos projetos urbanos mais ambiciosos de sua história.
Após um concurso de ideias, os arquitetos vencedores, Arturo Sanz e Carmel Gradolí, foram encarregados de elaborar o projeto do Parque de Desembocadura. Este empreendimento, com seus impressionantes 100.000 metros quadrados, representa um investimento inicial de 16 milhões de euros e marca não apenas o início do mandato de Catalá, mas também um marco na história urbana de Valência.

O projeto (Con)fluir, proposto pelos arquitetos vencedores, apresenta uma visão que resgata não apenas a história do antigo leito do Túria, mas também a memória de bairros como Nazaret, historicamente negligenciados. Com a incorporação de um bosque urbano, áreas de convívio, e uma homenagem à antiga praia de Nazaret, o novo parque promete ser um ponto de encontro vibrante para toda a comunidade valenciana.

O projeto visa uma tripla reparação: ecológica, urbana e social. A reparação ecológica busca restaurar a morfologia original do Túria e sua vegetação ribeirinha, criando uma floresta urbana eficaz contra as mudanças climáticas e garantindo a biodiversidade, atraindo fauna autóctone.
A reparação urbana conecta o Parc de Desembocadura com outros espaços verdes da cidade, como a horta protegida da Punta e o PAI do Grau, enquanto repara o dano histórico a Nazaret, reconectando-a à bacia histórica e redesenhando a ponte das Atarazanas para priorizar pedestres, bicicletas e o bonde. A reparação social visa devolver um ambiente acolhedor aos bairros, reconectando Nazaret à cidade e projetando um parque inclusivo e seguro, que também cuida da saúde ambiental, propondo soluções para melhorar a qualidade da água.

Para os moradores de Nazaret, essa iniciativa é mais do que uma mera transformação urbana: é uma reparação histórica. Julio Moltó, presidente da Associação de Moradores do bairro, ressalta a importância de concluir o Jardim do Túria e revitalizar o trecho final do leito fluvial como um gesto de reconhecimento à comunidade local.

Conectar o Jardim do Túria ao mar, reforçando o laço entre a cidade e suas origens fluviais. Além de proporcionar espaços de lazer e contemplação, o projeto também visa resgatar a biodiversidade original do leito do rio, respeitando seu ecossistema único. A renaturalização, baseada em mapas topográficos antigos, buscará recriar as ilhas e habitats naturais que caracterizavam o trecho final do Túria.

Com uma área de 245.600 metros quadrados, desde a ponte de L'Assut de l'Or até Nazaret, o parque exigirá um investimento de aproximadamente 35 milhões de euros. A equipe selecionada também ficará responsável pela redação do projeto e supervisão das obras da primeira fase, abrangendo 9,4 hectares até o porto, com um orçamento de 16,7 milhões de euros - 75% provenientes da Autoridade Portuária e um milhão destinado ao escritório de arquitetura.

Por fim, o novo Parque de Desembocadura não será apenas uma expansão do Jardim do Túria, mas sim um elo entre o passado e o futuro de Valência, uma celebração da resiliência da cidade frente às adversidades e um símbolo do compromisso com um futuro sustentável e inclusivo para todos os seus cidadãos.
"É o parque das pessoas e nele convergem desejos, necessidades e esforços para reparar o que se quebrou, criando um espaço onde possamos cuidar uns dos outros", afirmam os vencedores do concurso.
Desvio do Rio Turia
O desvio do Rio Turia, implementado por meio do Plan Sur (ou Solução Sul) após a devastadora enchente de 1957, foi fundamental para proteger o núcleo urbano de Valência das inundações causadas pela tempestade DANA (Depressão Isolada em Altos Níveis) em outubro de 2024. Aqui está como ele contribuiu para salvar a cidade:
- Redirecionamento do curso do rio: Após a enchente de 1957, que matou entre 81 e 300 pessoas e inundou grande parte de Valência, o governo espanhol decidiu desviar o Rio Turia do centro da cidade. O novo leito, concluído em 1973, redireciona o rio a partir de Quart de Poblet, contornando o núcleo urbano pelo sul e desembocando no Mar Mediterrâneo, cerca de 3 km ao sul da foz original. Esse desvio evitou que as águas torrenciais da DANA de 2024 atingissem diretamente o centro de Valência, que antes era vulnerável por estar no caminho natural do rio.
- Capacidade ampliada do novo leito: O novo canal, com cerca de 12 km de comprimento e 175 metros de largura, foi projetado para suportar um fluxo de até 5.000 metros cúbicos por segundo, bem acima dos 3.700 m³/s registrados na enchente de 1957. Durante a DANA de 2024, o rio Turia atingiu picos de até 2.000 m³/s em alguns pontos, como na região de Manises, mas o novo leito conseguiu conter esse volume sem transbordar no núcleo urbano, evitando uma catástrofe na cidade.
- Proteção do centro urbano: O desvio fez com que as águas da enchente fossem direcionadas para fora da área central de Valência, protegendo locais icônicos como a Cidade das Artes e das Ciências e o centro histórico. Em 1957, o rio atravessava essas áreas, causando destruição generalizada. Em 2024, enquanto áreas periféricas e cidades vizinhas, como Paiporta e Picanya, sofreram inundações severas, o centro de Valência permaneceu relativamente intacto graças ao novo curso do rio.
- Infraestruturas complementares: O Embalse de Forata, construído em 1969 no rio Magro (afluente do Júcar), também ajudou a controlar o volume de água em áreas próximas a Valência durante a DANA de 2024. Embora o foco principal tenha sido o desvio do Turia, essas infraestruturas hidráulicas adicionais contribuíram para mitigar o impacto em algumas regiões, embora não tenham evitado inundações em áreas como Utiel.
- Limitações e contexto: Apesar do sucesso em proteger o centro de Valência, o desvio do Turia não foi suficiente para evitar inundações em áreas periféricas e cidades próximas, como Horta Sud, Camp de Túria e Requena-Utiel. A DANA de 2024 trouxe chuvas extremas, com até 400 litros/m² em algumas áreas, sobrecarregando sistemas de drenagem e causando inundações em regiões não protegidas pelo novo leito. Além disso, a falta de manutenção em algumas infraestruturas e a expansão urbana em áreas inundáveis contribuíram para os danos fora do centro.
Impacto e legado: O Plan Sur, iniciado em 1964 e concluído em 1973, foi uma obra de engenharia monumental que custou cerca de 5.000 milhões de pesetas na época, financiada parcialmente por sobretaxas postais. Ele transformou o antigo leito do rio em um parque urbano, o Jardim do Turia, hoje um marco cultural e recreativo de Valência. Durante a DANA de 2024, o desvio provou sua eficácia ao evitar uma tragédia no coração da cidade, embora o evento tenha exposto a necessidade de medidas mais amplas para proteger áreas periféricas e enfrentar os desafios das mudanças climáticas, que intensificam eventos extremos como esse.
Em resumo, o desvio do Rio Turia salvou o centro de Valência em 2024 ao redirecionar as águas da enchente para fora da cidade, utilizando um canal projetado para suportar grandes volumes de água. No entanto, a tragédia nas áreas circundantes, com mais de 200 mortes, destacou as limitações do projeto e a necessidade de soluções mais abrangentes para enfrentar eventos climáticos extremos.
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